Jacquemus reinventa a alfaiataria com alma campestre
Simon Porte Jacquemus voltou a trazer poesia à moda com a sua coleção Primavera 2026, apresentada sob o nome La Paysan: “O Camponês”. Mas não te deixes enganar pela aparente simplicidade do título: este desfile é tudo menos literal. É, sim, uma homenagem delicada e sofisticada à sua herança familiar no sul de França, transformada em moda de autor, com elegância, proporção e um sentimentalismo raro no universo fashion.
Desfilado numa estufa junto a Versailles, com atmosfera íntima e luz dourada a entrar pelas janelas, o cenário refletia a essência do que Jacquemus queria contar. A coleção mergulha nas memórias da infância e nos símbolos do campo: os lenços das avós, as camisas largas do pai agricultor, as silhuetas que se movem ao vento como lavouras ao entardecer.
Na passerelle, surgiram camisas-trapézio, vestidos-camisa com saias volumosas e blazers ovóides que brincam com a alfaiataria tradicional. Há uma tensão elegante entre a rigidez das formas e a leveza dos materiais: algodão popelina, linho fluido e peças de aparência quase arquitetónica. É o campo transformado em alta-costura, mas sem perder a autenticidade do gesto.
O detalhe que marcou a colecção? Cerca de 70% das peças femininas tinham saias amplas à frente e costas em forma de top justo, como se o corpo estivesse sempre em diálogo entre o recato e a revelação. Um jogo visual subtil, mas com imenso impacto. E mesmo quando tudo parece calmo, há uma energia contida que vibra nas dobras e nos cortes.
Esta coleção marca também um momento de transição na marca. Sem nunca abandonar a sua base prêt-à-porter, Jacquemus aproxima-se cada vez mais da alta-costura, numa evolução natural que não é estratégica, é emocional. É como se o designer estivesse a crescer junto com o seu público, a oferecer maturidade sem abdicar de identidade.
Para a Ritmo Urbano, onde celebramos marcas com história, emoção e atitude, Jacquemus continua a ser um dos nomes mais importantes da moda atual. Porque nos lembra que o estilo não precisa de ser barulhento para ser impactante. E que a beleza pode, e deve, ter raízes.




























































