Cattelan sussurra alto em Serralves

O Porto prepara-se para um verão artístico com sabor a provocação. A partir de 3 de julho, Serralves acolhe “Sussurro”, uma exposição retrospetiva de Maurizio Cattelan, o enfant terrible da arte contemporânea. A inauguração promete ser um acontecimento: entrada livre às 22h, cenografia imersiva e obras que não deixam ninguém indiferente. Literalmente.

“Sussurro” é tudo menos tímido. Estende-se pela Casa e pelo Parque de Serralves até 11 de janeiro de 2026, num percurso que convida ao confronto com o absurdo, o grotesco e o sublime. Curada por Philippe Vergne, diretor da instituição, esta exposição encena, não apenas expõe, as obras de Cattelan, numa viagem entre o riso e o incómodo, a memória e a sátira, a infância e o fim.

Entre os destaques está a já lendária “Comedian”, a famosa banana colada à parede com fita-cola que, apesar do aspeto quase infantil, vendeu por milhões e tornou-se ícone instantâneo da arte como espetáculo. Mais à frente, “Daddy, Daddy” mergulha um Pinóquio em pose trágica dentro de uma fonte, enquanto “La Nona Ora” retrata um Papa João Paulo II abatido por um meteorito, gelando o olhar de quem ousa encarar.

Cattelan é mestre em provocar desconforto com uma gargalhada a meio. Cada peça é um espelho distorcido da nossa relação com o poder, a religião, a fama e o valor que atribuímos às coisas. Nada é por acaso, nem a ironia nem o escândalo.

Para quem ainda acha que arte é só para ver de longe e em silêncio, esta mostra dá uma resposta à altura do seu nome: um sussurro que ecoa alto dentro de nós. Em plena Casa Art Déco e no verde sereno de Serralves, cada obra ganha nova vida, numa encenação que pede tempo, sensibilidade e, acima de tudo, uma mente aberta.

Se a tua ideia de um serão cultural envolve umas boas provocações visuais, reflexões sobre o mundo e uma banana na parede, marca já no calendário. Em Serralves, este verão, a arte vai sussurrar-te ao ouvido, mas com o volume bem alto